Seção local da Associação de Geógrafos na região do ABC Paulista

A importância da pressão popular contra o obscurantismo

Por Isabel Rodrigues

O dia 24 de setembro de 2019 ficará marcado na história da cidade de Santo André, sobretudo àqueles que estiveram presentes da Câmara dos Vereadores e acompanharam a votação do Projeto de Lei nº 299/2017, que tinha como pressuposto, amordaçar os professores do município e impedi-los de trabalhar temas como gravidez precoce, prevenção contra DST e Aids, igualdade entre homens e mulheres, respeito e valorização à diversidade, entre diversos outros assuntos de inquestionável relevância à formação dos alunos.

Os professores e alunos que eventualmente estavam desacreditados da importância da luta coletiva, reativaram as esperanças após a vitória conquistada de forma árdua, com a derrubada do projeto.

A votação na Câmara permitiu aos presentes uma análise importante sobre a linha de pensamento de cada um dos membros do legislativo que representa a cidade.

Ficou claro que aqueles que assumiram postura favorável ao projeto, demonstram desconhecimento e despreparo ao exercerem a função de parlamentares, pois ferem diretamente artigos importantes da Constituição Federal como a defesa da diversidade de saberes, liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, divulgar o pensamento e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.

É sabido que os vereadores que votaram favoráveis à censura dos professores estão em consonância com um projeto maior em curso no Brasil, que tem como ícone, o Presidente Jair Bolsonaro, o maior representante do machismo, da misoginia, do racismo, da intolerância e da violência, principalmente contra a população preta, pobre e periférica.
Uma parte dos parlamentares e membros do executivo que segue a linha bolsonarista, tem como pressuposto derrubar a laicidade do Estado, colocando todos os brasileiros sob o julgo da fé religiosa, desconsiderando o pensamento racional e toda a diversidade presente no país.

Apesar da incongruência do ‘modus operandi’ dos que representam o setor de ultradireita no Brasil, não se pode desconsiderar que fazem marketing inteligente, tentando de várias formas, conquistar e se manter no poder, por meio de fake news e captura do pensamento da população. Inegável que as forças estadunidenses contribuíram para essa triste realidade que hoje vive o Brasil, afinal, tem interesses econômicos, que não seriam possíveis mediante governos mais inclinados aos setores progressistas.Com todo esse cenário conservador e reacionário, não se pode desistir das possibilidades de mudança.

Neste sentido, a votação na Câmara dos Vereadores em Santo André, mesmo com a vitória apertada, foi uma injeção de ânimo àqueles que presenciaram a importância da pressão popular.

Minutos antes da votação, se encontravam na Câmara 14 vereadores; 7 se mostraram contra o projeto e 7, favoráveis. Atentos ao resultado, o público começou a gritar bravamente, para que Lucas Zacarias, um dos vereadores presentes, também votasse contrário. Pressionado pela voz dos estudantes e professores, Zacarias levantou, totalizando a maioria, sendo 8 votos de parlamentares que rejeitaram o projeto.

Mediante essa importante vitória em Santo André, em uma realidade micro, não tivemos dúvidas que a única saída para o Brasil ser um país gigante, sem fome, sem violência, sem machismo, sem ‘LGBTQfobia’, sem racismo, há somente um caminho, e esse chama-se pressão popular!

 

Fotos:  Gil Oliveira.

Este artigo foi originalmente publicado no site Hedflow

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