Seção local da Associação de Geógrafos na região do ABC Paulista

Carta de Apoio ao curso de Geografia da UNESP – Ourinhos

Nessas últimas semanas , ocorreram varias movimentações dos estudantes e funcionários da UNESP-Ourinhos contra o fechamento do seu curso de Geografia, e nós da AGB-ABC deixamos uma carta de apoio! Gostariamos também de agradecer a Seção Local de Presidente Prudente que nos ajudou a construir esta carta. Não esqueçam de ouvir o episódio do Podcast sobre a consolidação da UNESP Ourinhos aqui!

Leia na íntegra abaixo:

“Santo André, 12 de Agosto de 2020

A Seção ABC da Associação dos Geógrafos Brasileiros vem, por meio desta carta aberta, se solidarizar e apoiar a luta promovida pelos estudantes e funcionários da UNESP – Campus Experimental de Ourinhos contra o fim do curso de Geografia (ou transferência para outros câmpus), a favor da consolidação e da permanência do mesmo na cidade de Ourinhos. 

A defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, das ciências e das licenciaturas são nortes fundamentais da luta da AGB-ABC, como é a defesa da Geografia e seus cursos. Após leituras cuidadosas dos documentos formulados no dia 06 de Fevereiro e direcionados ao Conselho Universitário (CO), sobre a situação do campus e do curso de Geografia, e da manifestação dos servidores técnicos e administrativos direcionada à Câmara Central de Graduação (CCG) da UNESP, a AGB-ABC confirma o posicionamento desta seção.

O campus de Ourinhos possui um conturbado processo de formação dentro do contexto de expansão da UNESP, que resultou na criação de outros campus experimentais, contudo, mesmo com as diversas problemáticas desde o campus provisório no “Prédio do Seminário”, ao campus da Vitalina Marcusso e a construção do campus oficial em 2016, a comunidade universitária sempre esteve em conjunto para lutar por melhorias de infraestrutura, qualidade e experiência universitária. O curso de Geografia da UNESP Ourinhos é um importante centro de formação de professores, geógrafos e de divulgação científica. Além disso, as novas propostas de ingresso adotadas a partir desse ano, com a utilização direta da nota do ENEM, sem a necessidade do sistema SISU, possibilitaram uma participação mais efetiva dentro da comunidade local, sendo muitos desses moradores de Ourinhos e região.

Para além do curso, os vários projetos de extensão contribuem com a formação dos discentes e promovem a participação efetiva das pessoas da região: O cursinho popular pré vestibular do CACU-O, oferta complementação de formação e amplia as possibilidades de ingresso universitário para a comunidade do entorno, sendo vários discentes da Unesp oriundos deste projeto; o CENPEA, com seu amplo processo de educação ambiental, com projetos no parque ecológico de Ourinhos; o EDUCA GEO, com a participação dos discentes da universidade em projetos com as escolas.

As transformações do vestibular da UNESP, em especial a partir de 2010, foram elementos complicadores para os preenchimentos totais das vagas, pois a criação do filtro elitizador da segunda fase, em um vestibular onde a maior parte das pessoas no meio do ano eram treineiros se preparando para o vestibular de fim de ano criou inúmeros problemas para a consolidação de turmas cheias, como a eliminação de diversos candidatos que tinham real interesse em cursar Geografia.

Os ataques históricos feitos pela reitoria da UNESP ao campus de Ourinhos, criando impedimentos à sua consolidação, como a não criação dos planos de pós-graduação stricto sensu e a criação de cursos prometidos em campanhas de reitores eleitos, são exemplos comuns do que aconteceram em diversas universidades que priorizaram alguns cursos em detrimento de outros.

O curso de Geografia da Unesp Ourinhos sofre como tantos outros com os ataques governamentais e empresariais às faculdades de educação públicas. Os discursos de que “as licenciaturas não se pagam”, tão comuns em um contexto de transformação da educação em mercadoria, são argumentos comuns para o fechamento de cursos, como ocorreu corriqueiramente no ABC paulista, onde estamos localizados. Tal discurso desconsidera ainda a importância na formação de educadoras/es, sobretudo em instituições públicas, sendo a face do desprezo que o atual, bem como últimos governos do estado de São Paulo, possuem pelas professoras/es e por todo o ensino público neste país.

A presença de uma universidade pública como a Unesp em um município do porte e localização como o de Ourinhos se coloca também como de extrema importância para todas/os as/os munícipes que desejam se inserir no curso superior, sobretudo para aquelas/es que residem nas periferias e vivem com as mazelas da precarização da vida da classe trabalhadora. O curso de Geografia na Unesp Ourinhos se mostra como uma possibilidade de mudança da própria realidade através do acesso a um ensino superior público, gratuito e de qualidade.

A história do campus de Ourinhos é marcada por lutas das/os discentes por melhores condições de permanência, sendo também um campo para o exercício da consciência quanto sujeito social ativo que adquirimos durante o processo de aprendizado. Fechar o campus é ignorar tal histórico de lutas, bem como um retrocesso para o ensino público.

Compactuamos com os pontos apresentados pela carta dos funcionários, houve problemáticas de comunicação e quebras dos regimentos internos sobre a formulação do documento.:A ausência de transparência sobre quem foram os participantes desta reunião e a não realização das comissões mistas (que deveria ser composta por docentes e funcionários, além da transparência para os discentes da universidade), o que se agrava em um contexto nacional de ocultamento de informações e quebras de procedimentos, além dos dados apresentados quanto a 2020 serem parciais, uma vez que a última chamada e a inclusão do ENEM como forma de ingresso fez com que o curso tivesse sua capacidade próxima do seu máximo possível nas duas turmas (diurno e noturno). A utilização destes dados parciais não permitiu o diagnóstico real de um semestre que foram empregadas outras alternativas de ingresso, tal como a citada anteriormente, o que potencializaria as novas turmas e trariam novos ânimos ao curso, que além disso, são muitos oriundos da comunidade local, reiterando o papel importante da universidade com seu processo de formação e função social.

Consideramos ainda que a carta ao CO sugerindo o fechamento do curso representa uma imensa irresponsabilidade com toda a grande comunidade de pessoas que lutaram pela permanência e consolidação do curso, um descaso com toda a construção das lutas históricas de sua comunidade, um gesto de egoísmo, por quais motivos sejam, o de colocar o próprio curso para o abate por uma reitoria que há tempos ataca os cursos dos campus experimentais, e um desrespeito com a identidade de luta que tange o curso de Geografia.

Por todo o apresentado, nós da AGB-ABC, nos colocamos ao lado de estudantes e funcionários.

A formação pública, gratuita e de qualidade prestada pela UNESP Ourinhos não pode ser encerrada.

Pela consolidação do curso de Geografia e do Campus de Ourinhos, onde sua comunidade entende como seu lugar!

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