Considerações sobre “Ocupa Brasília” – 24/05/2017
Não queremos falar só sobre a violência de Estado contra os manifestantes na esplanada dos ministérios (até porque a ação do Estado na defesa dos interesses do capital já se conhece). Falaremos sobre os manifestantes, num debate entre as esquerdas, que deve, mais cedo ou mais tarde, ser feito.
O ato durou horas, mesmo sob intenso ataque policial.
E isso só foi possível pela coragem e PREPARAÇÃO dos setores que tomaram a frente do ato: UJR, UJC, PSTU, MAIS, CSP-Conlutas, anarquistas e independentes, que se chegaram e se mantiveram a frente do ato. Além destes setores, o MST e o MTST estavam presentes, assim como sindicatos menores e tidos como descaracterizados, que se desprenderam das burocracias da CUT, força sindical e CTB.
Os líderes e representantes da CUT, da Força Sindical e da CTB insatisfeitos em pedir para abandonarmos os mastros de nossas bandeiras durante o ato e em parar os carros de som no meio do caminho, quando sentiram os primeiros traços de gás lacrimogêneo no ar, balbuciavam nos microfones que os que resistiam à Polícia eram infiltrados e baderneiros, isto é que a base que formava a multidão organizada contra o governo estava descaracterizando o ato. Mas, descaracterizando o que exatamente?
Será que a verdadeira forma de luta da classe trabalhadora e da esquerda que deveria virar a mesa deve se manter como esta, subordinando-se a uma pseudo-esquerda que se acostumou a sentar nas mesas de negociação?
Será que precisamos nos ater aos acordões pelo alto que silenciam a revolta popular?
Será que a mobilização social deve ser contida em favor de objetivos eleitoreiros?
Será que qualquer projeto para além das amarras da sociedade vinculada aos liames do valor e do dinheiro deve ser substituído pelo doce sabor das ilusões com a democracia burguesa?
A história recente nos mostra que não!
As aproximadamente 150 mil pessoas que lá estiveram, cumpriram o seu papel, o ato foi forte e importante. Embora ficam os questionamentos de quem quer avançar. Partimos da premissa que numa mobilização de esquerda estamos lutando contra o Estado e o capital. Portanto, não teremos as facilidades que tiveram os atos golpistas.
Deste modo, podemos sumariamente concluir e sugerir que uma preparação articulada das entidades poderia ter servido à resistência. Cabe refletir sobre a possibilidade de uma ação mais unificada, a título de exemplo sobre o ato do dia 24/05, os carros de som mais próximos da barreira policial poderiam fazer um discurso unificado, sem pressões do próprio movimento contra a resistência o que levaria a um movimento mais ou menos homogêneo e uma forma de luta ampliada frente a violências do Estado. E mesmo assim, outros problemas de organização apareceram.
Por isso é válido os constantes questionamentos:
Quais são os limites das nossas mobilizações de massa?
É possível convencer os políticos e empresários a mudarem de ideia com enormes manifestações pacíficas, que se sabe exatamente como terminarão?
Adaptando as palavras do comandante Fidel Castro: Construir uma revolução não é um mar de rosas. É uma luta de morte entre o futuro e o passado.
Associação dos Geógrafos Brasileiros, seção ABC.